Investimento em ouro: proteção ou rentabilidade?
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INVESTIMENTOS
Paulo Ferreira
5/7/20259 min ler


Investimento em ouro: proteção ou rentabilidade?
O ouro sempre exerceu um fascínio único sobre a humanidade. Desde as antigas civilizações até os dias atuais, esse metal precioso carrega consigo uma aura de valor e segurança que poucos ativos conseguem igualar. Mas afinal, no contexto dos investimentos modernos, o ouro representa uma verdadeira oportunidade de rentabilidade ou apenas um porto seguro em tempos turbulentos? Essa é a questão que muitos investidores, especialmente iniciantes, se fazem ao considerar a inclusão desse metal em suas carteiras.
Neste artigo, vamos desmistificar o investimento em ouro, entender seu papel histórico e atual no mercado financeiro, e principalmente, ajudá-lo a decidir se esse ativo faz sentido para seu perfil e objetivos. Vamos além das promessas de proteção patrimonial e analisar com dados e exemplos práticos quando o ouro realmente cumpre seu papel de "seguro" para seu patrimônio.
Por que o ouro é considerado reserva de valor
O ouro carrega consigo milhares de anos de história como símbolo de riqueza e meio de troca confiável. Mas o que faz desse metal uma reserva de valor tão duradoura, mesmo em uma era digital e de ativos intangíveis?
A principal característica que sustenta o status do ouro como reserva de valor é sua escassez natural. Diferentemente do dinheiro fiduciário (papel-moeda), que pode ser impresso em quantidades teoricamente ilimitadas pelos governos, o ouro tem uma oferta limitada na natureza. Estima-se que todo o ouro já extraído no mundo caberia em um cubo de aproximadamente 21 metros de lado – algo relativamente pequeno considerando seu valor total.
Além da escassez, o ouro possui características físicas que o tornam ideal como reserva de valor:
Durabilidade: não se deteriora com o tempo
Divisibilidade: pode ser dividido em unidades menores sem perder valor
Homogeneidade: uma onça de ouro puro é idêntica a qualquer outra
Portabilidade: concentra alto valor em pouco volume/peso
Reconhecimento universal: é valorizado em praticamente todas as culturas
O ouro e a inflação
Um dos principais argumentos para o investimento em ouro é sua capacidade de proteger contra a inflação. Historicamente, o ouro tende a manter seu poder de compra ao longo do tempo, enquanto moedas fiduciárias perdem valor devido à inflação.
Para ilustrar: em 1970, uma onça de ouro (31,1 gramas) custava aproximadamente US$ 35. Hoje, essa mesma onça vale mais de US$ 2.000. Esse aumento de preço não significa necessariamente que o ouro "valorizou", mas sim que o dólar perdeu poder de compra ao longo do tempo.
Em períodos de hiperinflação ou crises monetárias severas, como ocorreu na Alemanha na década de 1920, na Argentina nos anos 2000 ou mais recentemente na Venezuela, o ouro provou ser um dos poucos ativos capazes de preservar riqueza quando a moeda local entrou em colapso.
Comportamento em crises econômicas
Outro aspecto que fortalece a reputação do ouro como reserva de valor é seu comportamento durante crises econômicas. Vamos analisar alguns exemplos históricos:
Crise de 2008: Enquanto mercados de ações despencaram globalmente, o ouro subiu de aproximadamente US$ 800 para mais de US$ 1.200 por onça entre 2008 e 2009.
Pandemia de COVID-19: De janeiro a agosto de 2020, o ouro valorizou cerca de 35%, atingindo uma máxima histórica acima de US$ 2.000 por onça, enquanto empresas faliam e mercados sofriam volatilidade extrema.
Tensões geopolíticas: Conflitos como a Guerra Russo-Ucraniana em 2022 provocaram valorizações expressivas no preço do ouro.
Este comportamento demonstra o que os economistas chamam de "correlação negativa" com ativos de risco, o que faz do ouro um excelente diversificador de portfólio.
Formas de investir em ouro
Existem diversos caminhos para incluir ouro em sua carteira de investimentos. Cada método tem suas vantagens e desvantagens específicas, e a escolha ideal dependerá dos seus objetivos, preferências e horizonte de investimento.
Ouro físico
A forma mais tradicional é a compra e guarda do metal físico. No Brasil, isso pode ser feito de algumas maneiras:
Barras e lingotes:
Podem ser adquiridos em bancos como Banco do Brasil ou casas especializadas
Disponíveis em diversos pesos, desde 1g até 1kg
Exigem comprovação de procedência (nota fiscal)
Necessitam de local seguro para armazenamento (cofres ou custódia bancária)
Moedas de ouro:
Opção com maior liquidez que os lingotes
Algumas possuem valor numismático (colecionáveis), podendo valorizar além do preço do metal
Exemplos: Krugerrand (África do Sul), American Eagle (EUA) e Sovereign (Reino Unido)
Joias:
Forma menos eficiente de investimento devido ao sobrepreço da manufatura
Valor artístico pode se depreciar com o tempo
Menor pureza (geralmente 18k ou 75% de ouro puro)
Ouro financeiro
Para investidores que buscam praticidade e segurança sem lidar com armazenamento físico, existem opções no mercado financeiro:
Ouro na B3 (OZ1D):
Contrato negociado na bolsa brasileira
Cada contrato equivale a 0,225 onças-troy (aproximadamente 7 gramas)
Alta liquidez e custos de corretagem relativamente baixos
Isento de IOF
Tributação de 15% sobre o ganho de capital (mesma regra das ações)
ETFs de ouro:
Fundos negociados em bolsa que replicam o preço do ouro
Exemplos internacionais: SPDR Gold Shares (GLD), iShares Gold Trust (IAU)
No Brasil: GOLD11 (renda variável) ou OURC11 (FII)
Permitem investimento com valores menores
Liquidez diária em horário de pregão
Fundos de investimento em ouro:
Geridos por profissionais especializados
Podem investir em diversos ativos relacionados ao ouro
Cobram taxa de administração
Podem ser mais acessíveis para pequenos investidores
Mineradoras de ouro
Uma forma indireta de exposição ao mercado aurífero é investir em empresas que extraem o metal:
Ações de mineradoras:
Na B3: AURA33 (Aura Minerals), VALE3 (Vale)
No exterior: Barrick Gold, Newmont, Anglo Gold Ashanti
Potencial de valorização além do preço do ouro (alavancagem operacional)
Exposição a riscos adicionais (gestão, operacionais, ESG)
ETFs de mineradoras:
GDXJ (Junior Gold Miners)
GDX (Gold Miners)
Diversificação entre várias empresas do setor
Vantagens e desvantagens
Como todo investimento, o ouro apresenta benefícios e limitações que precisam ser cuidadosamente avaliados.
Vantagens
Proteção contra inflação: O ouro historicamente preserva poder de compra em cenários inflacionários prolongados, funcionando como um "seguro" contra a deterioração da moeda. Na economia brasileira, que já enfrentou períodos de inflação elevada, essa característica é particularmente relevante.
Diversificação de portfólio: Por apresentar baixa correlação com classes tradicionais como ações e títulos, o ouro ajuda a reduzir a volatilidade geral da carteira. Estudos mostram que uma alocação entre 5% e 10% em ouro pode melhorar significativamente a relação risco-retorno de um portfólio diversificado.
Liquidez elevada: O mercado global de ouro é extremamente líquido, com volume diário de negociação superior a US$ 150 bilhões. Isso significa que você consegue converter seu investimento em dinheiro rapidamente e sem grandes distorções de preço.
Universalidade: Aceito globalmente como forma de riqueza, o ouro transcende fronteiras e sistemas econômicos. Em situações extremas de crise institucional, pode ser transportado e negociado internacionalmente.
Desvantagens
Não gera rendimentos: Diferentemente de ações (que pagam dividendos) ou títulos de renda fixa (que pagam juros), o ouro não gera fluxo de caixa para o investidor. Seu retorno depende exclusivamente da valorização do preço.
Custos de armazenamento e segurança: Para quem opta pelo metal físico, há despesas com seguro, cofres ou custódia que podem reduzir a rentabilidade do investimento ao longo do tempo.
Volatilidade no curto prazo: Embora seja considerado seguro no longo prazo, o ouro pode apresentar oscilações significativas de preço em períodos curtos, influenciado por fatores como variação do dólar e taxas de juros globais.
Tributação: No Brasil, o ganho de capital na venda de ouro como ativo financeiro é tributado em 15%, semelhante às ações. Para o ouro físico, aplica-se a tabela regressiva do Imposto de Renda, podendo chegar a 22,5% para investimentos de curto prazo.
Quando o ouro ganha destaque
O comportamento do ouro como investimento não é constante. Existem cenários econômicos específicos em que esse metal tende a se destacar mais que outros ativos.
Períodos de incerteza econômica
Historicamente, o ouro tem seu melhor desempenho em momentos de alta insegurança nos mercados. Durante o auge da crise financeira de 2008, o metal se valorizou significativamente enquanto ações despencavam globalmente. O mesmo ocorreu no início da pandemia de COVID-19 em 2020.
Um estudo do World Gold Council analisou os retornos do ouro durante as 25 piores quedas do mercado de ações desde 1971 e concluiu que, em 22 desses eventos, o ouro apresentou retorno positivo.
Ambientes de juros reais baixos ou negativos
O ouro tende a ter melhor desempenho quando as taxas de juros reais (taxa nominal menos inflação) estão baixas ou negativas. Isso ocorre porque o custo de oportunidade de manter um ativo sem rendimentos (como o ouro) diminui quando os juros reais estão comprimidos.
Por exemplo, entre 2019 e 2021, com juros globais próximos de zero e inflação crescente, o ouro atingiu máximas históricas acima dos US$ 2.000 por onça.
Desvalorização cambial
Especialmente para investidores brasileiros, o ouro pode funcionar como proteção contra a desvalorização do real frente ao dólar. Como o preço internacional do ouro é cotado em dólares, uma alta da moeda americana tende a elevar o preço do metal em reais, mesmo que seu valor em dólar permaneça estável.
Expansão monetária
Períodos de forte expansão da base monetária, como os observados após a crise de 2008 e durante a pandemia (com os programas de Quantitative Easing), geralmente beneficiam o preço do ouro. O temor de que a injeção maciça de liquidez pelos bancos centrais possa causar inflação futura direciona capital para ativos reais como o ouro.
Como incluir ouro na carteira
A inclusão do ouro em uma carteira de investimentos deve ser feita de forma estratégica, considerando seu papel específico na estratégia global.
Definindo a alocação ideal
Especialistas e estudos de alocação de ativos geralmente recomendam uma exposição entre 5% e 10% do portfólio em ouro. Essa proporção seria suficiente para obter os benefícios de diversificação sem comprometer significativamente o potencial de retorno total da carteira.
Para investidores mais conservadores ou que vivem em economias com histórico de instabilidade monetária, essa alocação pode ser elevada para até 15%. Já investidores mais agressivos, focados em crescimento, podem reduzir para 3-5%.
Estratégias de entrada
Existem diferentes abordagens para iniciar ou aumentar sua posição em ouro:
Entradas graduais (Dollar-Cost Averaging): Investir valores fixos periodicamente, independentemente do preço do metal. Esta estratégia ajuda a reduzir o impacto da volatilidade e evita o risco de timing de mercado.
Compras estratégicas em correções: Aproveitar quedas significativas no preço do ouro para realizar aportes. Esta abordagem exige acompanhamento mais próximo do mercado e disciplina para agir nos momentos de pessimismo.
Balanceamento regular: Manter a proporção desejada de ouro através de rebalanceamentos periódicos da carteira. Por exemplo, se o objetivo for 10% em ouro e essa alocação subir para 15% após uma valorização, parte da posição seria vendida para retornar ao percentual alvo.
Escolhendo o veículo de investimento
A forma de exposição ao ouro deve ser condizente com seu perfil e objetivos:
Para proteção extrema: ouro físico (lingotes e moedas) oferece segurança contra riscos sistêmicos, mas exige soluções de armazenamento.
Para diversificação financeira: ETFs de ouro como GOLD11 ou contratos OZ1D na B3 oferecem praticidade, liquidez e custos menores.
Para potencial de rentabilidade adicional: ações de mineradoras podem proporcionar retornos superiores em ciclos de alta do ouro, mas com riscos ampliados.
Para uma abordagem híbrida: combine diferentes veículos, mantendo por exemplo 50% da exposição ao ouro via ETFs para liquidez e 50% em ouro físico para proteção contra riscos extremos.
Conclusão
O ouro não é nem a bala de prata que alguns entusiastas prometem, nem o investimento obsoleto que seus críticos sugerem. É um ativo com características únicas que, quando bem compreendido e adequadamente posicionado em uma carteira diversificada, cumpre funções importantes de proteção e diversificação.
Sua principal virtude está na capacidade de preservar valor em cenários adversos – inflação elevada, crises econômicas, instabilidade monetária ou geopolítica. Porém, não deve ser visto como fonte primária de rentabilidade ou crescimento patrimonial.
Para o investidor brasileiro, especialmente, o ouro representa uma proteção adicional contra riscos específicos de mercados emergentes, como depreciação cambial e ciclos inflacionários. Uma alocação moderada, entre 5% e 10% do portfólio, parece ser o caminho mais equilibrado para a maioria dos perfis.
Como em qualquer decisão de investimento, o conhecimento e a clareza sobre objetivos pessoais devem guiar suas escolhas. O ouro não é um fim em si mesmo, mas uma ferramenta que, utilizada estrategicamente, pode contribuir para uma jornada financeira mais segura e resiliente.
Lembre-se: em um mundo financeiro cada vez mais complexo e interconectado, a verdadeira proteção vem não de apostar tudo em um único ativo, mas de construir um portfólio equilibrado que possa navegar diferentes cenários econômicos com segurança.
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