Como montar um planejamento financeiro para empreender com segurança

Vai abrir um negócio? Veja como montar um planejamento financeiro para empreender com mais segurança, evitando dívidas e garantindo capital de giro. Comece certo no mundo dos negócios. Aprenda mais com a NoobMoney.

PLANEJAMENTO FINANCEIROORGANIZAÇÃO FINANCEIRA

Paulo Ferreira

4/16/202510 min ler

Como montar um planejamento financeiro para empreender com segurança

Empreender é um sonho para muitas pessoas. A ideia de ter o próprio negócio, ser dono do seu tempo e construir algo do zero é extremamente sedutora. Mas entre o sonho e a realidade existe um elemento fundamental que muitos subestimam: o planejamento financeiro.

Já vi amigos próximos abandonarem carreiras promissoras para empreender e, poucos meses depois, estarem completamente endividados. Não porque não tinham um bom produto ou serviço, mas porque simplesmente não se prepararam financeiramente para a jornada empreendedora.

Se você está pensando em abrir seu próprio negócio, saiba que o planejamento financeiro não é apenas mais um item na sua lista de tarefas — ele é a espinha dorsal que vai sustentar seu sonho nos momentos difíceis. E acredite, esses momentos virão.

Vamos explorar juntos como você pode construir bases financeiras sólidas para que seu empreendimento não apenas sobreviva, mas prospere mesmo durante as turbulências inevitáveis do mercado.

Quanto custa abrir um negócio?

Esta é provavelmente a primeira pergunta que você se fez quando decidiu empreender. E a resposta sincera é: depende muito. Mas não se preocupe, vamos desdobrar os custos principais para que você consiga fazer uma estimativa mais precisa para o seu caso.

Diferente do que muitos pensam, abrir um negócio vai muito além do investimento inicial em equipamentos ou estoque. Existe uma série de custos menos óbvios, mas igualmente importantes, que precisam ser considerados.

Custos fixos, variáveis e imprevistos

Custos fixos são aqueles que você terá independentemente do volume de vendas ou produção. Eles incluem:

  • Aluguel do espaço: mesmo em tempos de negócios digitais, muitos empreendimentos ainda precisam de um espaço físico. E mesmo que você comece trabalhando em casa, talvez precise considerar uma parcela do seu aluguel ou IPTU como custo do negócio.

  • Salários e encargos: se você pretende contratar colaboradores, lembre-se que além do salário combinado, existem encargos trabalhistas que podem aumentar este valor em 70% ou mais.

  • Contabilidade: este é um custo que muitos empreendedores iniciantes negligenciam, mas é essencial. Um contador competente não apenas cuidará das suas obrigações fiscais, mas também poderá orientá-lo sobre a melhor forma de tributação para o seu negócio.

  • Licenças e taxas: dependendo do seu setor, você precisará de licenças específicas (como alvará de funcionamento, licença sanitária, registro em conselhos profissionais), que geralmente têm custos periódicos.

  • Seguro: proteger seu negócio contra imprevistos como incêndios, roubos ou responsabilidade civil é fundamental.

Já os custos variáveis mudam conforme o volume de produção ou vendas:

  • Matéria-prima ou mercadorias: o que você precisa comprar para produzir seu produto ou oferecer seu serviço.

  • Comissões de vendas: se você trabalha com vendedores comissionados.

  • Embalagens e frete: essenciais para e-commerces e negócios que entregam produtos.

  • Marketing e publicidade: fundamental para atrair clientes, este custo pode variar conforme suas campanhas e estratégias.

Por fim, nunca subestime os imprevistos. Uma máquina que quebra, um cliente que atrasa o pagamento, uma oportunidade de compra em grande quantidade para obter desconto... Todos esses cenários exigem um "colchão financeiro".

Uma regra prática que utilizo é reservar pelo menos 20% do valor calculado inicialmente para lidar com imprevistos. Isso porque a realidade de um negócio sempre traz surpresas, especialmente nos primeiros meses.

Mariana, uma leitora da NoobMoney, compartilhou comigo sua experiência ao abrir uma pequena confeitaria: "Eu tinha calculado todos os custos com ingredientes, embalagens, até mesmo com marketing nas redes sociais. Mas no primeiro mês, meu forno industrial apresentou um problema e o custo do reparo consumiu toda minha margem de lucro. Se eu não tivesse uma reserva para imprevistos, teria começado meu negócio já no vermelho."

A história de Mariana não é incomum. Segundo dados do SEBRAE, cerca de 30% das pequenas empresas fecham nos primeiros dois anos, e a falta de planejamento financeiro adequado é uma das principais causas.

Como organizar suas finanças antes de empreender

Antes mesmo de abrir as portas do seu negócio (virtual ou físico), você precisa organizar suas finanças pessoais. Empreender exige estabilidade financeira para que você possa focar na construção e crescimento do seu negócio sem o estresse constante de como pagará suas contas pessoais.

Reserva de emergência + fundo para o negócio

Aqui está o segredo que muitos empreendedores de primeira viagem ignoram: você precisa não de uma, mas de duas reservas financeiras distintas.

1. Reserva de emergência pessoal

Esta é a sua rede de segurança para cobrir despesas pessoais caso o negócio não gere o retorno esperado nos primeiros meses (o que é bastante comum). Idealmente, sua reserva de emergência deve cobrir de 6 a 12 meses dos seus gastos fixos mensais.

Por exemplo, se você gasta R$ 4.000 por mês com aluguel, alimentação, transporte, plano de saúde e outras despesas essenciais, sua reserva de emergência deve ser de R$ 24.000 a R$ 48.000.

É um valor considerável? Sim. Mas pense nisso como seu seguro contra o estresse financeiro enquanto você dedica tempo e energia para fazer seu negócio decolar.

Como ressaltamos em nosso artigo Reserva 6x: O método definitivo para sua segurança financeira, essa proteção não é um luxo, mas uma necessidade, especialmente para empreendedores que ainda não têm um fluxo de caixa estável.

2. Capital inicial para o negócio

Além da sua reserva pessoal, você precisa de capital suficiente para:

  • Cobrir os custos de abertura do negócio (que discutimos anteriormente)

  • Manter o negócio funcionando por pelo menos 6 meses, mesmo que não haja lucro

  • Investir em crescimento quando surgirem oportunidades

Este segundo fundo é exclusivamente para o negócio e não deve ser misturado com suas finanças pessoais. Muitos empreendedores cometem o erro de usar sua reserva pessoal para cobrir buracos no negócio, o que pode comprometer sua segurança financeira.

Pedro, outro leitor da NoobMoney, compartilhou uma perspectiva interessante: "Decidi empreender após 10 anos como funcionário de uma multinacional. Economizei durante dois anos antes de pedir demissão. Criei um fundo que me daria tranquilidade para viver 12 meses sem salário e outro exclusivo para iniciar meu negócio de consultoria. Nos primeiros quatro meses, não tive um único cliente, mas consegui manter a calma porque sabia que tinha tempo para ajustar minha estratégia sem pressão financeira."

A abordagem de Pedro exemplifica perfeitamente o que estou defendendo aqui: preparação financeira adequada antes de dar o salto para o empreendedorismo.

Para construir essas reservas, você pode:

  • Começar seu negócio como "side hustle" enquanto mantém seu emprego atual

  • Reduzir drasticamente suas despesas pessoais durante um período para economizar mais

  • Buscar sócios que possam contribuir com capital

  • Considerar opções de financiamento, mas com extrema cautela

Falando em financiamentos, é importante mencionar que empréstimos para iniciar um negócio devem ser sua última opção. Como discutimos em Como sair do buraco financeiro, começar um empreendimento já endividado pode ser um caminho perigoso.

Se você ainda não possui essas reservas, talvez valha a pena adiar seus planos de empreender até estar financeiramente preparado. O artigo Microinvestimentos: como começar com pouco dinheiro pode oferecer caminhos para acelerar essa construção de capital.

Controlando os gastos da empresa

Uma vez que você iniciou sua jornada empreendedora, manter o controle rigoroso das finanças do negócio se torna sua prioridade número um. Não importa o quão brilhante seja seu produto ou serviço, sem gestão financeira adequada, o fracasso é quase garantido.

Separar CPF de CNPJ é essencial

Este é um dos erros mais comuns e potencialmente devastadores que vejo entre pequenos empreendedores: a mistura entre as finanças pessoais e as do negócio.

Quando você não estabelece uma separação clara entre seu dinheiro e o dinheiro da empresa, algumas consequências negativas são inevitáveis:

  • Dificuldade em avaliar a real rentabilidade do negócio: Se você usa o caixa da empresa para pagar seu jantar de sexta-feira ou, inversamente, usa seu salário para comprar suprimentos para o negócio sem contabilizar adequadamente, nunca saberá se seu empreendimento está realmente dando lucro.

  • Problemas fiscais e contábeis: A confusão entre contas pessoais e empresariais pode gerar inconsistências na declaração de impostos e dificultar o trabalho do contador, potencialmente gerando problemas com a Receita Federal.

  • Dificuldade em obter crédito: Bancos e investidores querem ver demonstrações financeiras claras e organizadas antes de aprovar financiamentos ou investir no seu negócio.

Para evitar esses problemas, siga estas práticas essenciais:

1. Abra uma conta bancária exclusiva para o negócio

Mesmo que você seja um MEI (Microempreendedor Individual), ter uma conta separada para as operações do seu negócio é fundamental. Hoje existem diversas opções de contas PJ com tarifas reduzidas ou até mesmo gratuitas.

2. Estabeleça um pró-labore fixo

Em vez de retirar dinheiro do caixa da empresa conforme necessário, determine um "salário" fixo mensal para você. Esse valor deve ser realista e baseado nas possibilidades financeiras do seu negócio. Com o tempo, você poderá aumentar esse valor conforme o crescimento do empreendimento.

3. Mantenha registros meticulosos

Cada centavo que entra ou sai do seu negócio deve ser registrado. Existem excelentes softwares de gestão financeira que podem facilitar esse trabalho, muitos com versões gratuitas para pequenos negócios.

4. Planeje seus impostos

Impostos não são surpresas, são compromissos previsíveis. Reserve mensalmente os valores correspondentes aos tributos que sua empresa deverá pagar, evitando sustos no momento do recolhimento.

Ana Clara, empreendedora no setor de marketing digital, compartilhou uma prática interessante: "Criei três contas diferentes para minha empresa: uma operacional, para despesas do dia a dia; uma de impostos, onde deposito mensalmente a proporção dos tributos que terei que pagar; e uma de investimentos, onde guardo recursos para expansão futura."

A estratégia de Ana Clara demonstra um nível de organização financeira que todo empreendedor deveria buscar.

Monitorando a saúde financeira do seu negócio

Além de controlar os gastos, é fundamental acompanhar regularmente alguns indicadores que revelam a saúde financeira do seu empreendimento. Esses números serão seus aliados na tomada de decisões estratégicas.

Indicadores financeiros essenciais

1. Fluxo de Caixa

O fluxo de caixa é como o eletrocardiograma do seu negócio. Ele mostra todas as entradas e saídas de dinheiro em um determinado período. Um fluxo de caixa positivo significa que seu negócio está gerando mais dinheiro do que gastando, enquanto um fluxo negativo é um alerta vermelho que exige ação imediata.

2. Margem de Contribuição

Este indicador mostra quanto cada produto ou serviço contribui para cobrir os custos fixos da empresa e gerar lucro. Calculado como Preço de Venda - Custos Variáveis, ele ajuda a identificar quais produtos são mais rentáveis e merecem maior investimento.

3. Ponto de Equilíbrio

O ponto de equilíbrio indica quanto sua empresa precisa faturar para cobrir todos os custos, sem gerar lucro nem prejuízo. Conhecer esse número é essencial para estabelecer metas de vendas realistas e entender quando seu negócio começará a dar retorno.

4. Prazo Médio de Recebimento e Pagamento

Estes indicadores mostram, em média, quanto tempo você leva para receber de seus clientes e pagar seus fornecedores. Idealmente, você quer receber antes de pagar, para não comprometer seu caixa.

Como explica Bruno Cardoso, consultor financeiro: "Muitos negócios quebram não por falta de clientes ou vendas, mas por problemas de timing no fluxo de caixa. Vender muito e receber em 90 dias, quando seus fornecedores exigem pagamento em 30 dias, pode levar uma empresa aparentemente bem-sucedida à falência."

O monitoramento desses indicadores deve ser rotineiro, como destaca nosso artigo Curva de produtividade: o que é e como influencia seu sucesso financeiro. Compreender os padrões e ciclos do seu negócio permite antecipar problemas e identificar oportunidades de crescimento.

Planejando o crescimento do seu negócio

Uma vez que seu empreendimento esteja operando de forma estável, com controles financeiros bem estabelecidos, é hora de pensar em crescimento. Mas atenção: crescer sem planejamento financeiro adequado pode ser tão arriscado quanto começar sem ele.

Estratégias financeiras para expansão

1. Reinvestimento de lucros

Uma das formas mais seguras de financiar o crescimento do seu negócio é reinvestir parte dos lucros. Isso evita endividamento e mantém o controle da empresa em suas mãos. Determine uma porcentagem do lucro mensal que será destinada a investimentos para expansão.

2. Busca de investidores

Se seu negócio demonstra potencial de crescimento acelerado, atrair investidores pode ser uma estratégia válida. Mas lembre-se: ao aceitar capital externo, você compartilha não apenas os lucros, mas também o poder de decisão.

3. Financiamentos estratégicos

Em alguns casos, linhas de crédito específicas para empresas podem ser uma opção viável, especialmente aquelas com juros subsidiados oferecidas por bancos de fomento. O importante é calcular cuidadosamente se o retorno esperado do investimento superará significativamente o custo do financiamento.

Guilherme, dono de uma pequena indústria de alimentos, compartilhou sua experiência: "Nos primeiros dois anos, reinvesti 100% dos lucros no negócio. Quando surgiu a oportunidade de adquirir um equipamento que triplicaria nossa produção, fiz um financiamento pelo BNDES. Foi uma decisão calculada, baseada em projeções financeiras sólidas, e que nos permitiu dar um salto que levaria anos para alcançar apenas com reinvestimento de lucros."

A experiência de Guilherme ilustra um princípio importante: o endividamento controlado e estratégico pode ser uma ferramenta de crescimento, desde que baseado em análises financeiras rigorosas e não em impulso ou otimismo exagerado.

Conclusão: Planejamento é o segredo do sucesso

Ao longo deste artigo, exploramos como o planejamento financeiro é fundamental para quem deseja empreender com segurança. Vimos que preparar-se financeiramente antes de iniciar, manter controles rigorosos durante a operação e planejar estrategicamente o crescimento são práticas que diferenciam empreendimentos bem-sucedidos daqueles que fracassam prematuramente.

Lembre-se sempre: empreender é uma maratona, não uma corrida de 100 metros. A solidez financeira lhe dará o fôlego necessário para superar os obstáculos inevitáveis e alcançar a linha de chegada.

Se você está contemplando a possibilidade de abrir seu próprio negócio, comece hoje mesmo seu planejamento financeiro. Avalie sua situação atual, estabeleça metas claras para construir as reservas necessárias e eduque-se constantemente sobre gestão financeira.

Como sempre digo aos leitores da NoobMoney: o sucesso financeiro, seja pessoal ou empresarial, não é fruto de sorte ou talento inato, mas de decisões conscientes e planejamento meticuloso.

E você, já começou seu planejamento financeiro para empreender? Compartilhe nos comentários sua experiência ou dúvidas sobre o tema!

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