Como funciona o COE (Certificado de Operações Estruturadas) e quando vale a pena investir

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INVESTIMENTOS

Paulo Ferreira

5/7/20259 min read

Como funciona o COE (Certificado de Operações Estruturadas) e quando vale a pena investir

Você já ouviu falar sobre o COE, mas não sabe exatamente do que se trata? Ou talvez já tenha recebido uma oferta do seu gerente, prometendo "o melhor dos dois mundos": segurança e rentabilidade? Neste artigo completo, vamos desvendar o que é este produto financeiro, como ele funciona na prática e, principalmente, quando ele realmente pode ser uma boa opção para o seu portfólio de investimentos.

O que é COE

O Certificado de Operações Estruturadas (COE) é um investimento considerado híbrido, que combina características de renda fixa com elementos de renda variável. Criado oficialmente no Brasil em 2013 e regulamentado pelo Banco Central, ele permite que o investidor tenha acesso a diferentes tipos de ativos e mercados em um único produto.

O nome "estruturado" vem justamente da forma como o produto é montado: através da combinação de diferentes instrumentos financeiros para criar uma estrutura com características específicas de risco e retorno.

Origem e evolução

Os produtos estruturados já existiam há décadas no mercado internacional antes de chegarem oficialmente ao Brasil. Em países como Estados Unidos e na Europa, são conhecidos como "structured notes" ou "structured products" e representam uma indústria de trilhões de dólares.

No Brasil, antes da regulamentação oficial em 2013, produtos semelhantes eram oferecidos de maneira menos padronizada. A regulamentação trouxe mais transparência e proteção ao investidor, estabelecendo regras claras para a emissão e comercialização destes certificados.

Características essenciais

O COE possui algumas características fundamentais:

  • Emissor único: sempre é emitido por uma instituição financeira, como um banco

  • Prazo definido: tem data de início e vencimento pré-determinados

  • Personalização: pode ser estruturado de diversas formas, com diferentes níveis de proteção e exposição a riscos

  • Documento de informações essenciais (DIE): documento obrigatório que detalha todas as características do produto

Um ponto importante: diferentemente de um fundo de investimento, no COE você não compra cotas, mas sim um título emitido pela instituição financeira. Isso significa que, além dos riscos da operação em si, você também assume o risco de crédito do emissor.

Como é estruturado esse tipo de produto

Para entender o COE, é fundamental compreender sua estrutura. Em essência, o banco emissor divide seu investimento em duas partes:

A parte de proteção (renda fixa)

Uma parcela do seu dinheiro é direcionada para instrumentos de renda fixa, geralmente títulos de baixo risco. Esta parte é responsável por garantir a proteção do capital que foi prometida. Por exemplo, em um COE com 100% de proteção do capital, essa parcela deve crescer o suficiente para, no vencimento, devolver pelo menos o valor inicial investido.

Quanto maior a proteção oferecida, maior será o percentual do seu investimento direcionado para esta parte, e consequentemente, menor será a parcela destinada à parte de rentabilidade.

A parte de rentabilidade (derivativos)

O restante do investimento é aplicado em derivativos ou operações estruturadas que buscam obter a rentabilidade adicional. Estes podem ser opções, contratos futuros, swaps ou outros instrumentos financeiros ligados aos ativos de referência do COE (ações, índices, moedas, commodities, etc.).

É nesta parte que reside o potencial de ganho do COE, mas também seus riscos. O banco utiliza estratégias sofisticadas para tentar maximizar o retorno desta parcela.

Tipos comuns de estruturas

Existem diversos tipos de estruturas que podem ser criadas em um COE. As mais comuns são:

Call

Oferece participação na alta de um ativo ou índice. Por exemplo, um COE que paga 100% da valorização do Ibovespa acima de determinado nível, com proteção do capital investido.

Put

Proporciona ganhos em cenários de queda de um ativo. Ideal para proteção (hedge) de carteiras em momentos de incerteza no mercado.

Call Spread

Limita tanto ganhos quanto perdas, estabelecendo um "teto" para o rendimento máximo em troca de uma proteção maior ou participação mais elevada na alta.

Autocallable

Possui mecanismos de encerramento antecipado se determinadas condições forem atingidas, geralmente oferecendo um prêmio fixo caso o ativo de referência atinja certo patamar antes do vencimento.

Barrier Options

Utiliza barreiras (níveis de preço) que, se atingidas pelo ativo de referência durante a vida do COE, ativam ou desativam determinadas características do produto.

Perfil de risco do investidor

O COE pode se adequar a diferentes perfis de investidor, dependendo de sua estrutura específica. No entanto, por ser um produto sofisticado e muitas vezes de difícil compreensão para leigos, é geralmente mais recomendado para investidores com perfil moderado a arrojado, e com certo grau de conhecimento financeiro.

Para o perfil conservador

COEs com 100% de proteção do capital podem ser adequados para investidores mais conservadores que queiram uma exposição limitada à renda variável, desde que:

  • Entendam que a proteção só vale no vencimento

  • Estejam dispostos a deixar o dinheiro aplicado até o final do prazo

  • Compreendam que a rentabilidade não é garantida e pode ser zero

Para o perfil moderado

Investidores moderados podem se interessar por COEs com proteção parcial do capital (90%, 95%) em troca de maior potencial de rentabilidade.

Para o perfil arrojado

Já investidores arrojados podem optar por estruturas mais complexas, com proteção menor ou nula, em busca de retornos potencialmente mais elevados.

Em qualquer caso, é essencial que o investidor compreenda completamente o funcionamento do produto antes de investir. Infelizmente, muitos COEs são vendidos sem a devida explicação de seus riscos e limitações.

Casos em que vale a pena investir

O COE não é um vilão nem um herói do mercado financeiro – é simplesmente um instrumento que pode ser útil em determinadas situações. Vejamos quando ele realmente pode fazer sentido:

Acesso a mercados internacionais

Um dos grandes atrativos do COE é permitir exposição a mercados e ativos de difícil acesso para o pequeno investidor brasileiro, como:

  • Índices de bolsas internacionais (S&P 500, Nasdaq, Nikkei)

  • Ações de empresas estrangeiras específicas

  • Commodities internacionais

  • Moedas exóticas

Nestes casos, o COE pode ser uma forma mais simples de diversificar internacionalmente sem a necessidade de abrir conta em corretoras estrangeiras.

Estratégias complexas simplificadas

Outro cenário favorável é quando você deseja implementar estratégias que seriam complexas de montar por conta própria, como:

  • Operações com opções exóticas

  • Estratégias que combinam diferentes classes de ativos

  • Exposição a cestas personalizadas de ativos

O COE "empacota" essas estratégias em um único produto, facilitando o acesso a elas.

Proteção parcial em cenários de incerteza

Em momentos de grande incerteza no mercado, mas com potencial de recuperação, um COE com proteção do capital pode oferecer tranquilidade junto com a possibilidade de ganhos se o cenário positivo se concretizar.

Adequação a objetivos específicos

COEs podem ser estruturados para atender objetivos muito específicos, como:

  • Proteção cambial para uma viagem futura

  • Exposição a setores específicos da economia

  • Rentabilidade vinculada a eventos ou indicadores particulares

Riscos e cuidados

Apesar das possíveis vantagens, o COE apresenta diversos riscos que precisam ser considerados com atenção:

Risco de crédito do emissor

Como mencionado anteriormente, o COE é um título de dívida do banco emissor. Se o banco quebrar, você pode perder seu investimento, mesmo em estruturas com "proteção total".

É importante ressaltar que o COE conta com a cobertura do FGC (Fundo Garantidor de Créditos) até o limite de R$ 250 mil por CPF e instituição financeira, somados a outros produtos garantidos da mesma instituição.

Baixa liquidez

A maioria dos COEs não possui liquidez no mercado secundário, ou quando possui, é com deságio significativo. Na prática, isso significa que se você precisar resgatar antes do vencimento, provavelmente terá prejuízo, independentemente do desempenho dos ativos subjacentes.

Complexidade e falta de transparência

Muitos COEs possuem estruturas complexas, difíceis de entender mesmo para investidores experientes. Isso dificulta a avaliação adequada dos riscos e potenciais retornos.

Além disso, nem sempre os custos embutidos são transparentes. Embora o COE não tenha taxa de administração explícita, o banco ganha através do spread entre o custo real da estruturação e o preço cobrado do investidor.

Rentabilidade limitada

Em estruturas com proteção do capital, é comum que a participação nos ganhos seja limitada. Por exemplo, você pode ter direito a apenas 70% da valorização do índice de referência, ou haver um teto para o retorno máximo.

Risco de não atingir o "gatilho"

Alguns COEs possuem condições específicas para pagar rentabilidade. Se essas condições não forem atingidas, você pode ficar apenas com o capital protegido, sem nenhum rendimento, mesmo após anos de investimento.

Como avaliar um COE antes de investir

Se você está considerando investir em um COE, siga estes passos para uma análise adequada:

Leia atentamente o DIE (Documento de Informações Essenciais)

Este documento obrigatório contém todas as características do produto. Preste especial atenção a:

  • Nível de proteção do capital

  • Prazo de vencimento

  • Condições para rentabilidade

  • Cenários de retorno (pessimista, intermediário e otimista)

  • Custos e taxas embutidas

Faça simulações independentes

Não confie apenas nos exemplos fornecidos pelo emissor. Tente simular diferentes cenários para entender como o produto se comportaria em diversas condições de mercado.

Compare com alternativas mais simples

Antes de decidir pelo COE, compare-o com estratégias mais simples que poderiam atingir objetivos semelhantes. Por exemplo, um mix de Tesouro Direto com um ETF pode, em muitos casos, oferecer resultado similar com mais transparência e liquidez.

Questione o vendedor

Se um gerente ou assessor está lhe oferecendo um COE, faça perguntas diretas:

  • Qual a remuneração que ele recebe pela venda deste produto?

  • Quais são os principais riscos?

  • O que acontece se você precisar resgatar antes do vencimento?

  • Quais os custos embutidos na estrutura?

Considere o contexto econômico

A atratividade de um COE depende muito do contexto econômico. Por exemplo:

  • Em cenários de juros altos (como no Brasil atualmente), a parte de proteção do COE consome mais recursos, deixando menos para a parte de rentabilidade

  • Em mercados muito voláteis, opções ficam mais caras, reduzindo o potencial de retorno de estruturas que as utilizam

Alternativas ao COE

Antes de investir em um COE, considere estas alternativas que podem oferecer benefícios semelhantes com maior transparência:

Estratégia "do it yourself"

Para investidores mais sofisticados, replicar a estrutura do COE por conta própria pode ser mais vantajoso:

  • Invista parte do capital em um título de renda fixa (como Tesouro Direto)

  • Use o restante para comprar opções ou ETFs do ativo de referência

Esta abordagem oferece mais transparência, controle e frequentemente menores custos.

ETFs internacionais

Para exposição a mercados externos, considere ETFs negociados no Brasil (como IVVB11) ou abra conta em corretoras internacionais que oferecem acesso direto a ETFs globais.

Fundos multimercados

Fundos multimercados sofisticados podem implementar estratégias semelhantes às de um COE, com a vantagem da gestão ativa e maior diversificação.

Exemplos práticos de COEs

Para ilustrar melhor como funcionam os COEs na prática, vejamos alguns exemplos comuns:

COE IBOV + Proteção

  • Proteção: 100% do capital

  • Prazo: 2 anos

  • Referência: Ibovespa

  • Participação: 70% da valorização do Ibovespa

  • Funcionamento: Se após 2 anos o Ibovespa subir 20%, você recebe seu capital + 14% (70% de 20%). Se o Ibovespa cair, você recebe 100% do capital investido.

COE Autocallable Ações Americanas

  • Proteção: 90% do capital

  • Prazo: 3 anos (com possibilidade de resgate antecipado)

  • Referência: Cesta com 5 ações americanas de tecnologia

  • Barreira de autocall: 10% acima do valor inicial

  • Cupom: 15% ao ano

  • Funcionamento: A cada 6 meses, verifica-se se todas as 5 ações estão pelo menos 10% acima do valor inicial. Se sim, o COE é encerrado antecipadamente e paga o capital + cupom proporcional ao período. Se chegar ao final dos 3 anos sem atingir a condição, paga apenas a proteção de 90% do capital.

COE Moedas

  • Proteção: 100% do capital em dólares

  • Prazo: 1 ano

  • Referência: Taxa de câmbio EUR/USD

  • Barreira: Valorização de até 5% do Euro frente ao Dólar

  • Rentabilidade: 12% se a barreira não for atingida

  • Funcionamento: Se durante 1 ano o Euro não se valorizar mais que 5% frente ao Dólar, você recebe capital + 12%. Caso contrário, recebe apenas o capital investido.

Considerações finais sobre COEs

O COE não é intrinsecamente bom ou ruim – é um instrumento financeiro que pode ser adequado em determinadas circunstâncias. No entanto, alguns pontos merecem atenção especial:

O lado do banco

Os bancos têm forte incentivo para vender COEs, pois:

  • São produtos proprietários com margens elevadas

  • Geram comissões significativas para gerentes e assessores

  • Permitem ao banco captar recursos com custo menor que outras alternativas

  • Costumam ter prazos longos, garantindo recursos por períodos extensos

Isso explica por que são tão ativamente oferecidos, especialmente para clientes de alta renda.

Quando evitar

Evite investir em COEs quando:

  • Você não compreende completamente como o produto funciona

  • Pode precisar dos recursos antes do vencimento

  • O cenário de juros está muito elevado (reduzindo o potencial de retorno)

  • Existem alternativas mais simples e transparentes para seu objetivo

  • O banco não consegue explicar claramente todos os custos embutidos

Conclusão

O Certificado de Operações Estruturadas pode ser uma opção interessante para diversificar investimentos e acessar mercados ou estratégias mais sofisticadas, especialmente quando oferece proteção do capital em cenários de incerteza.

No entanto, é fundamental compreender que não existe "mágica" no mercado financeiro. O que o COE oferece em termos de proteção, cobra em termos de limitação de potencial de ganho ou custos embutidos.

Antes de investir, analise cuidadosamente as características do produto, compare com alternativas mais simples e questione as motivações de quem está vendendo. Lembre-se de que a complexidade raramente favorece o investidor de varejo.

Se ainda assim decidir incluir COEs na sua carteira, faça-o como uma pequena parcela do portfólio e com recursos que você possa manter aplicados até o vencimento.

O mais importante é manter sua estratégia de investimentos alinhada com seus objetivos financeiros, horizonte de tempo e tolerância ao risco, independentemente dos produtos específicos escolhidos.

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