Ações pagadoras de dividendos: o que são e como montar uma carteira
Conheça as ações que pagam dividendos, como identificá-las e montar uma carteira que gera renda passiva todos os meses. Aprenda mais com a NoobMoney. Ações pagadoras de dividendos
INVESTIMENTOS
Paulo Ferreira
5/7/20259 min ler


Ações pagadoras de dividendos: o que são e como montar uma carteira
Em um cenário de investimentos, existem diversas estratégias para fazer o seu patrimônio crescer. Uma das mais tradicionais e apreciadas por investidores experientes é a estratégia de dividendos, que consiste em construir uma carteira de ações de empresas que distribuem regularmente parte de seus lucros aos acionistas. Mas será que essa estratégia é adequada para você? Vamos entender em detalhes o que são dividendos, como funcionam e como montar uma carteira eficiente que pode gerar renda passiva por anos.
O que são dividendos
Dividendos são parcelas do lucro líquido de uma empresa que são distribuídas periodicamente aos seus acionistas. Em outras palavras, quando você compra ações de uma companhia, além da possibilidade de valorização do preço desses papéis ao longo do tempo, você também pode receber parte dos lucros que essa empresa gera.
No Brasil, a Lei das S.A. (Lei nº 6.404/76) estabelece que as empresas de capital aberto devem distribuir, obrigatoriamente, no mínimo 25% de seu lucro líquido ajustado aos acionistas na forma de dividendos. No entanto, cada empresa pode definir em seu estatuto social um percentual maior de distribuição, e algumas optam por distribuir bem mais que o mínimo legal.
Os dividendos são pagos proporcionalmente à quantidade de ações que o investidor possui. Por exemplo, se você tem 100 ações de uma empresa que decidiu pagar R$ 2,00 por ação em dividendos, você receberá R$ 200,00.
Uma característica importante dos dividendos no Brasil é que eles são isentos de Imposto de Renda. Enquanto a venda de ações com lucro é tributada em 15% sobre o ganho de capital, os dividendos recebidos entram direto no seu bolso sem nenhum desconto fiscal, o que os torna ainda mais atrativos.
Tipos de proventos
Além dos dividendos tradicionais, existem outros tipos de proventos que as empresas podem distribuir aos acionistas:
Juros sobre Capital Próprio (JCP): Similar aos dividendos, mas com tratamento contábil e tributário diferente. Os JCPs são dedutíveis do imposto de renda da empresa, mas sofrem retenção de 15% de IR na fonte quando pagos ao investidor.
Bonificações: Distribuição de novas ações aos acionistas, proporcionalmente à sua participação. Em vez de receber dinheiro, o investidor recebe mais ações.
Desdobramentos (Splits): Quando a empresa multiplica o número de ações existentes, reduzindo proporcionalmente o valor de cada uma. Por exemplo, em um split 2:1, cada ação se transforma em duas, mas o valor de cada uma cai pela metade.
Agrupamentos (Inplits): O oposto do desdobramento, quando a empresa reduz o número de ações, aumentando proporcionalmente o valor de cada uma.
Como funcionam as ações que pagam dividendos
As empresas pagadoras de dividendos geralmente pertencem a setores maduros e estáveis da economia, com fluxos de caixa previsíveis e menos necessidade de reinvestimento para crescimento. São empresas que já alcançaram certo nível de desenvolvimento e conseguem gerar lucros consistentes.
Ciclo de pagamento de dividendos
O processo de pagamento de dividendos segue um ciclo com datas importantes:
Data de deliberação: Quando a empresa anuncia que pagará dividendos.
Data com direito (data "com"): Até esta data, quem comprar ações terá direito a receber os dividendos anunciados.
Data ex-dividendo (data "ex"): Um dia após a data "com". Quem comprar ações a partir desta data não terá mais direito aos dividendos já anunciados.
Data de pagamento: Quando o dinheiro é efetivamente depositado na conta do investidor.
É fundamental entender esse ciclo para não comprar ações pensando que receberá dividendos quando na verdade já passou a data "com".
Dividend Yield (DY)
O Dividend Yield é o principal indicador para avaliar ações pagadoras de dividendos. Ele representa a relação entre os dividendos pagos por ação em um período (geralmente 12 meses) e o preço atual da ação, expresso em percentual:
Dividend Yield = (Dividendos pagos por ação nos últimos 12 meses / Preço atual da ação) x 100
Por exemplo, se uma ação custa R$ 20,00 e pagou R$ 1,60 em dividendos nos últimos 12 meses, seu Dividend Yield é de 8% (1,60 ÷ 20 x 100).
O DY funciona como uma espécie de "taxa de retorno" dos dividendos. Quanto maior, melhor para o investidor focado em renda. No entanto, um DY muito alto (acima da média do mercado) pode indicar que:
O preço da ação caiu muito recentemente
A empresa fez um pagamento extraordinário não recorrente
Pode haver algo errado com a empresa ou setor
Por isso, é importante analisar sempre o histórico de pagamentos e não apenas o DY atual.
Payout
O índice de Payout indica qual percentual do lucro líquido a empresa está distribuindo aos acionistas:
Payout = (Dividendos distribuídos / Lucro líquido) x 100
Um Payout de 40%, por exemplo, significa que a empresa está distribuindo 40% de seus lucros e reinvestindo os outros 60% no negócio.
Não existe um Payout ideal, pois depende muito do setor e estágio de crescimento da empresa. Empresas em setores muito competitivos ou em fase de expansão tendem a ter Payouts menores, pois precisam reinvestir mais. Já empresas em setores estáveis e maduros podem ter Payouts maiores.
No entanto, Payouts consistentemente acima de 100% são um sinal de alerta, pois indicam que a empresa está distribuindo mais do que ganha, possivelmente comprometendo sua saúde financeira no longo prazo.
Como escolher boas pagadoras
Escolher boas empresas pagadoras de dividendos vai muito além de simplesmente olhar para o Dividend Yield atual. É necessário analisar diversos aspectos para garantir que os dividendos sejam sustentáveis e crescentes ao longo do tempo.
Consistência nos pagamentos
Um dos fatores mais importantes é a consistência. Empresas que pagam dividendos há muitos anos, de forma regular, mesmo em períodos de crise econômica, demonstram solidez e compromisso com a remuneração dos acionistas.
Analise o histórico de pagamentos dos últimos 5 a 10 anos. Empresas que conseguiram manter ou aumentar seus dividendos durante períodos difíceis merecem atenção especial.
Crescimento dos dividendos
Mais importante que dividendos altos hoje é a capacidade da empresa de aumentá-los ao longo do tempo. Um dividendo que cresce constantemente acima da inflação pode transformar um investimento modesto em uma excelente fonte de renda passiva após alguns anos.
Procure empresas com histórico de crescimento consistente nos dividendos pagos. Esse crescimento deve ser sustentado por aumento nos lucros e não apenas por aumento no Payout.
Indicadores fundamentalistas
Além do DY e Payout, outros indicadores são importantes para avaliar a qualidade de uma pagadora de dividendos:
ROE (Retorno sobre Patrimônio Líquido): Indica a eficiência com que a empresa usa seu capital para gerar lucros. Quanto maior, melhor.
Dívida Líquida/EBITDA: Mede o endividamento da empresa em relação à sua geração de caixa operacional. Quanto menor, melhor.
Margem Líquida: Percentual do faturamento que se converte em lucro. Margens maiores e estáveis indicam vantagens competitivas.
Crescimento do Lucro por Ação: Mostra se a empresa está conseguindo crescer seus lucros, o que é fundamental para sustentar dividendos crescentes.
Setores mais propícios
Alguns setores da economia tendem a ter empresas mais propensas a pagar bons dividendos:
Bancos e instituições financeiras: Geralmente têm fluxos de caixa estáveis e pouca necessidade de investimentos pesados.
Energia elétrica e saneamento: Setores regulados com demanda estável e previsibilidade de receitas.
Telecomunicações: Grandes empresas estabelecidas com bases de clientes estáveis.
Seguradoras: Negócios com bom retorno sobre capital e pouca necessidade de reinvestimento.
Empresas de bens de consumo não-duráveis: Produtos que as pessoas continuam comprando mesmo em tempos difíceis.
No Brasil, empresas como Itaú Unibanco (ITUB4), Banco do Brasil (BBAS3), Taesa (TAEE11), Engie (EGIE3), Telefônica Brasil (VIVT3) e Ambev (ABEV3) têm históricos sólidos de pagamento de dividendos.
Riscos e cuidados
Embora investir em ações pagadoras de dividendos possa parecer uma estratégia segura, existem riscos que não podem ser ignorados.
Armadilha do yield alto
Um erro comum é selecionar ações apenas pelo Dividend Yield elevado. Como mencionado anteriormente, um DY muito acima da média do mercado pode ser sinal de problemas.
Em muitos casos, o DY está alto porque o preço da ação despencou devido a problemas fundamentais no negócio. Nesses casos, os dividendos futuros provavelmente serão cortados.
Concentração setorial
Outro risco é concentrar investimentos em poucos setores. No Brasil, os setores financeiro e de energia elétrica concentram muitas das melhores pagadoras de dividendos, mas isso não significa que você deva alocar todo seu capital nesses setores.
Uma carteira bem diversificada deve incluir empresas de diferentes setores para mitigar riscos específicos de cada indústria.
Mudanças tributárias
A isenção de Imposto de Renda sobre dividendos no Brasil é um tema frequentemente debatido e pode sofrer alterações no futuro. Uma eventual tributação reduzirá a atratividade relativa dessa estratégia.
Ciclo econômico
Em períodos de forte crescimento econômico, ações de crescimento (que reinvestem mais e pagam menos dividendos) tendem a superar as pagadoras de dividendos. Por outro lado, em períodos de estagnação ou recessão, as pagadoras de dividendos costumam ser mais resilientes.
Montando sua carteira
Com base nos conceitos e cuidados apresentados, vamos ver como montar uma carteira de ações pagadoras de dividendos eficiente.
Definindo seus objetivos
Antes de escolher as ações, defina claramente seus objetivos:
Você busca renda imediata? Nesse caso, priorize ações com DY atual mais elevado, desde que sustentável.
Você busca renda crescente para o futuro? Priorize empresas com potencial de crescimento nos dividendos, mesmo que o yield atual seja moderado.
Qual sua tolerância a volatilidade? Ações mais voláteis podem oferecer yields maiores, mas com mais risco.
Diversificação adequada
Uma carteira bem diversificada de pagadoras de dividendos deve conter:
De 10 a 15 empresas diferentes: Esse número permite boa diversificação sem pulverização excessiva.
Pelo menos 5 setores diferentes: Para mitigar riscos setoriais específicos.
Mix de perfis de pagamento: Algumas empresas com DY mais alto (acima de 7%), outras com DY moderado (4-7%) mas com bom potencial de crescimento, e algumas com DY mais baixo (2-4%) mas com forte crescimento dos dividendos.
Rebalanceamento periódico
A manutenção da carteira é tão importante quanto sua construção inicial:
Revisão semestral ou anual: Analise se os fundamentos das empresas continuam sólidos.
Reinvestimento dos dividendos: Para acelerar o crescimento do patrimônio, considere reinvestir os dividendos recebidos em novas ações, especialmente nos primeiros anos.
Atenção aos sinais de alerta: Queda persistente nos lucros, aumento significativo do endividamento, ou cortes nos dividendos são sinais para reconsiderar o investimento.
Exemplo prático de carteira
Para ilustrar, veja um exemplo simplificado de uma carteira diversificada de pagadoras de dividendos (observação: não constitui recomendação de investimento, apenas exemplo didático):
Setor financeiro (25% da carteira):
Itaú Unibanco (ITUB4)
Banco do Brasil (BBAS3)
B3 (B3SA3)
Setor elétrico (25% da carteira):
Taesa (TAEE11)
Engie Brasil (EGIE3)
Transmissão Paulista (TRPL4)
Telecomunicações (15% da carteira):
Telefônica Brasil (VIVT3)
TIM (TIMS3)
Consumo (15% da carteira):
Ambev (ABEV3)
WEG (WEGE3)
Outros setores (20% da carteira):
Vale (VALE3) - Mineração
Petrobras (PETR4) - Petróleo
Klabin (KLBN11) - Papel e Celulose
Essa distribuição busca equilibrar setores tradicionalmente bons pagadores de dividendos (financeiro e elétrico) com outros setores para diversificação.
Alternativas às ações individuais
Se você não se sente confortável em selecionar ações individuais, existem alternativas interessantes:
ETFs de dividendos
Os ETFs (Exchange Traded Funds) são fundos negociados em bolsa que seguem um índice específico. No Brasil, o DIVO11, por exemplo, é um ETF que busca replicar o Índice Dividendos (IDIV), composto pelas principais pagadoras de dividendos da B3.
Vantagens:
Diversificação automática
Gestão passiva com taxas baixas
Simplicidade operacional
Desvantagens:
Menor controle sobre a composição
Impossibilidade de selecionar apenas suas empresas favoritas
Nem sempre o índice representa as melhores pagadoras
FIIs como complemento
Os Fundos de Investimento Imobiliário (FIIs) são excelentes complementos para uma estratégia de dividendos. Assim como os dividendos de ações, os rendimentos dos FIIs também são isentos de IR para pessoa física.
Os FIIs permitem diversificar para o setor imobiliário, que geralmente tem baixa correlação com o mercado de ações, aumentando a resiliência da carteira.
REITs internacionais
Para quem tem acesso ao mercado internacional, os REITs (Real Estate Investment Trusts) americanos são uma excelente opção de diversificação geográfica para uma estratégia de dividendos. Muitos REITs pagam dividendos trimestrais e têm históricos de décadas de pagamentos crescentes.
Conclusão
Investir em ações pagadoras de dividendos é uma estratégia que combina potencial de valorização com geração de renda passiva. Quando bem executada, pode proporcionar um fluxo crescente de renda ao longo dos anos, contribuindo significativamente para sua independência financeira.
No entanto, é fundamental ir além do simples Dividend Yield e analisar profundamente os fundamentos das empresas, buscando aquelas com vantagens competitivas sustentáveis, histórico de pagamentos consistentes e potencial de crescimento nos lucros e dividendos.
Lembre-se sempre que os dividendos passados não garantem dividendos futuros. A base para dividendos sustentáveis é uma empresa sólida, bem gerida e lucrativa. Portanto, antes de ser um investidor de dividendos, seja um investidor em bons negócios.
Com pesquisa, diversificação adequada e paciência, a estratégia de dividendos pode se tornar um dos pilares mais sólidos da sua jornada de investimentos.
Gostou deste conteúdo? Confira também:
Mentalidade financeira: como mudar sua relação com o dinheiro
Como montar uma carteira de investimentos equilibrada
Comece hoje a transformar sua vida financeira.
Adquira a Planilha FinanceLab e tenha em mãos uma ferramenta prática para controlar seus gastos, organizar suas finanças e construir sua reserva de emergência com o método Reserva 6x.